Para celebrar o "Dia do Amigo", queremos dividir com vocês esse lindo poema de Vinícius de Morais, uma boa reflexão para a vida e bem propícia para o dia de hoje.
Obrigada a cada um de vocês que nos acompanha diariamente!
Procura-se
um Amigo
Não
precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter
coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem
que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do
canto dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande
amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve
amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é
preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de
segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são
enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo
impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de
perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo
que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal
objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e
compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças
e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se
um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado
de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de
grande chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um
amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e
triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e
da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de
caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de
se deitar no capim.
Precisa-se
de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é
bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se
parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de
memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas
que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se
vive.
Foto: reprodução.
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